Imagine que, por um infortúnio,
você seja comedido de um câncer no cérebro. Você só irá desejar ser operado
apenas por alguém que já tenha tido um câncer no cérebro e que se sinta
exatamente como você, ou escolherá a pessoa mais qualificada do ramo e que
possui altas taxas de sucesso em seu currículo mas não tem ideia absolutamente
nenhuma do que você está passando?
As
chances de que você se identifique mais com a pessoa que passou pelo mesmo
problema que você do que com o profissional eficiente é muito maior. Saber
quantos são os momentos de dor, quantas as vezes a desistência do tratamento parecia
ser a opção mais óbvia, e conviver com a incertezas trazidas pela saúde
debilitada realmente têm potencial de gerar um elevado grau de empatia, pelo
menos num primeiro momento.
Compartilhar
características em comum permite fazer generalizações e agrupamentos. Fazemos
várias generalizações ao longo de um dia, afinal, endereçar as particularidades
de cada pessoa sobre cada atributo possível pode ser uma tarefa deveras custosa.
Não há problemas em, dependendo das circunstâncias envolvidas, colocar “etiquetas”
nas pessoas. Mas não saber a essência, o limite tampouco as consequências
dessas generalizações e correr o risco de usá-las em momentos impróprios é sim um
problema um tanto relevante.
Em
termos um pouco mais rigorosos, generalizar e agrupar significa dizer que a
variação das características dentre os indivíduos de um grupo é tão pequena,
que ao conhecer um indivíduo da população, você consegue saber tudo o que há
sobre qualquer outro daquela mesma população. Ao mesmo tempo, a variação de
atributos entre um indivíduo de um grupo e outro indivíduo de outro grupo é tão
grande que é possível admitir que, por pertencer grupos diferentes, esses dois
são extremamente diferentes.
Assim,
agrupamentos e generalizações são ferramentas, formas de racionalizar a
realidade complexa, precisamos usá-los com prudência. Diálogos com objetivo de
estabelecer terreno comum, como decidir aonde passar as férias com a família,
conhecer um novo colega de trabalho ou de faculdade, negociar um contrato com
um cliente, são péssimas circunstâncias para incluir alguém no grupo de pessoas
tão A ou B. Por outro lado, quando se pretende desenhar políticas públicas
focadas, ou quando um desconhecido está vindo em sua direção numa rua escura e sinuosa,
isto é, situações nas quais não é possível, por restrições de tempo ou pelo risco
envolvido, individualizar as relações, o bom uso das ferramentas é muito bem
vindo.
Parece
um trabalho um tanto ardiloso aprender a generalizar, e a verdade é que cabe a
cada um julgar cuidadosamente, de acordo com seus objetivos e experiências,
quando colocar as pessoas em cestas de atributos, afinal, como diz o velho
ditado “quando se tem apenas martelo, tudo é prego”.