domingo, 14 de março de 2021

É hora do Show

                “A commodity mais preciosa é a informação”, fala que motiva as ações do multimilionário Gordon Gekko, personagem icônico do filme Wall Street, que na trama, possui o hábito de buscar informações privilegiadas em relação ao mercado para obter lucros quase certos (conhecida como arbitragem no mundo das finanças). Na tentativa desesperada de ganhar a atenção e possivelmente fechar um acordo de negócios com Gekko, Budd Fox, um corretor do mercado de ações, revela um segredo sobre a empresa aérea Bluestar, empresa na qual seu pai dedicou toda uma vida profissional como mecânico.

                Apesar de o filme suscitar muitos assuntos interessantes passíveis de discussão, vou me debruçar sobre sobre o último fato destacado no parágrafo anterior: o fato de o pai de Bud Fox haver preservado uma longa carreira em uma única empresa.

                Muito comum durante o século XX, sobretudo entre a geração apelidada de baby boomers (pessoas nascidas entre 1946 e 1964). Escolher uma empresa, jurar fidelidade e tentar galgar posições cada vez mais elevadas dentro dela era a receita para o sucesso no mercado de trabalho para aqueles que desejavam se posicionar como ofertantes de mão de obra.

                De fato, esta estratégia não deixou de ser válida completamente, no entanto, fatores como avanços tecnológicos, diminuição das barreiras à mobilidade, mudança de perfil e objetivos de vida estão desencadeando uma reversão nessa tendência. Mais especificamente, não me refiro à leadade das pessoas em relação ao emprego ou à empresa em que trabalham, mas sim o fato de dedicarem uma vida inteira à ela. A chamada Gig Economy é que está se tornando cada vez mais comum. O termo Gig vem justamente da analogia utilizada pelos atuantes no setor de entretenimento musical, caracterizados por serem majoritariamente demandados para serviços específicos e que podem ou não gerar um vínculo duradouro.

                Imagine, por exemplo, que você toca bateria em uma banda cujo repertório vai do pop contemporâneo ao sertanejo. Vocês podem tanto ser contratados para uma série de shows de bailes por uma empresa de formatura ou podem ser chamados por um determinado bar que deseja incorporar música ao vivo às suas noites, mas em nenhum momento vocês têm um acordo de exclusividade com a empresa de formaturas tampouco com os bares exceto para realizar as apresentações combinadas. Cada um desses shows é chamado de Gig.

                Outro termo bastante utilizado para a Gig economy é a uberização, em referência ao estilo de trabalho dos colaboradores (como assim são chamados pela Uber) que fazem o serviço de carona por meio de aplicativos. Usando como base a Uber, e sabendo que os habitantes de cada vez mais cidades no mundo obtiveram um grande ganho de bem-estar e passaram a se acostumar com ele, talvez seja seguro dizer que realizar Gigs seja uma tendência real e impactante, pelo menos até que outro terremoto no mercado de trabalho aconteça.

Um comentário:

  1. Uma análise de como mudaram os conceitos da relação empregado e empregador. Quem ficar preso ao passado tende a sucumbir.

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