sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Aluno para sempre

            Imagine frequentar um lugar no qual você pode, com uma mensalidade bastante acessível, fazer curso de vários instrumentos musicais, inclusive canto. Sim, é tipo uma Smartfit da música, na qual você gira a roleta e pode escolher qualquer curso de música oferecido pela escola. “Revolucionária”, “única”, “extraordinária”, entre outros, são adjetivos comumente exclamados por aqueles que ouvem a proposta pela primeira vez.

           Sabemos muito bem que não basta ter uma grande ideia, sua execução também precisa ser grandiosa. No caso da Musiflex (seu nome), posso afirmar como aluno, que a execução foi tão grandiosa quanto a ideia. Jamais faltavam esforços para que todos os estudantes tivessem todo o suporte necessário. Importante ressaltar, a escola é dirigida por uma família de sonhadores que queriam, como o próprio slogan dizia, “democratizar o ensino da música”.

            Imagine também você frequentar um lugar onde, apesar de ser moldado como uma escola tradicional, você conta com todo o amparo necessário para para que seu aprendizado seja maximizado, seja ele técnico, material ou emocional. Ao adentrar a BSB Musical você poderia sempre esperar ser recebido de braços abertos por funcionários, professores e outros alunos. Além disso, poderia esperar o que havia de mais moderno em termos de plataformas digitais, diversas modalidades de matrícula, muita presteza e disposição.

             Musiflex e BSB Musical contavam com um auditório realmente invejável e salas de ensaio para que os alunos pudessem interagir e aplicar os conhecimentos aprendidos. Além disso, ambas tinham algo que era incomum e em comum: o ambiente não se parecia em nada com o de uma escola ordinária, mas sim como uma extensão daquela família de sonhadores. Nelas, se o seu nome é João, para eles você era o João, a pessoa, e nunca apenas mais um aluno pagador de mensalidades. Estar num ambiente como esse possibilitava conhecer pessoas que cursavam os mesmos ou outros instrumentos, tornando a aprendizagem mais orgânica, quase como morar num país para aprender um idioma.

            No entanto, com muito pesar, neste dia 2 de outubro de 2020 as histórias de mais de trinta anos da BSB Musical e 5 anos de Musiflex chegaram ao fim.

           Como é bem sabido de todos, os tempos de pandemia são implacáveis e já fizeram várias vítimas, tanto vidas com em vidas. Assim, apenas os melhor adaptados sobrevivem. No caso, ambas as escolas não mediram esforços para se adaptarem ao novo contexto: houveram vários descontos e promoções, foram experimentadas não uma mas várias formas de realização de aulas virtuais e o máximo de cuidado ao retornarem com as aulas presenciais. No entanto, o aumento da inadimplência e a queda de frequentadores devido à crise vitimaram ambas.

             De forma bastante implacável, empreendedores precisam aprender a viver num ambiente de constante adaptação à riscos e incertezas. Principalmente num lugar aonde o padrão ouro é a garantia, tranquilidade, a estabilidade do setor público, tais pessoas merecem todos os aplausos por enfrentarem o desconhecido.

           Embora realmente possam haver por aí empresários “do mal” ou seja lá o adjetivo que queira empregar (estes, em geral são os rent seekers, em economês), antes de simplesmente bombardearmos as pessoas que dedicam o máximo de suas vidas à manter um negocio, é preciso reconhecer aqueles que trabalham para oferecer os melhores produtos e serviços, encarando essa difícil tarefa. Não é sobre dinheiro, é sobre lutar a cada dia para manter um sonho vivo e ao mesmo tempo possibilitar o sonho de outros. Por isso, a mentalidade antiempresarial indiscriminada, fruto da perpetuação de uma ideia ultrapassada, irrealista e preconceituosa, nos impede de avançar como povo e nação. Caso continuemos cultivando tal mentalidade, a pobreza no país realmente terá um passado brilhante e um futuro promissor.

         Se por um lado, este é um texto que eu jamais gostaria de ter escrito por ser relacionado à tamanha perda, por outro, não poderia deixar de prestar esta singela homenagem e tentar fazer com que a longa trajetória e a triste retirada desses empresários do bem jamais seja em vão. As escolas podem ter deixado de existir fisicamente, mas elas sempre viverão na memória daqueles que tiveram o prazer e a honra de fazer parte daquela família.

           Foram muitos eventos, estudos, momentos... à todos os funcionários, professores, e aos donos, o meu muito obrigado não apenas pelos serviços, que podem ser parcialmente substituídos, mas também pela história de vida que vocês proporcionaram à mim e à milhares de outros estudantes ao longo dos anos, e isso sim é insubstituível. Até sempre.

 


Um comentário:

  1. Este é a dura realidade pós pandemia, teremos que nos adaptar, criando uma Nova relação aluno / escola. O que nos acalenta é que NADA é pra sempre e novos horizontes estão por vir.

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