É gol! Roberto Firmino aproveita o contra ataque fulminante para marcar o gol da vitória do Liverpool contra o Flamengo no Mundial de Clubes de 2019. Após o apito final, um torcedor dos Reds, que estava ao meu lado durante a partida e bastante empolgado com os lances do jogo, disse “You have a very good team! It was a very close match. Congratulations!”. Nos cumprimentamos e tornamos a conversar sobre alguns aspectos da partida. Mesmo após a cerimônia de premiação, o clima entre adversários foi marcado por tranquilidade, respeito, e admiração mútua.
Do
outro lado do espectro, a segunda partida da final da taça Libertadores da
América de 2018 entre os times argentinos Boca Juniors e River Plate foi
marcado por uma lamentável briga entre torcidas que obrigou as autoridades a realizarem
o jogo longe de terras sul-americanas. Os ferimentos no braço e no olho de
Pablo Pérez após um chuva de pedras e gás de pimenta lançada por torcedores do
River Plate ao ônibus da delegação do Boca Juniors demonstram a incapacidade de
coexistência entre os grupos de torcedores acerca de um simples evento
esportivo (para eles, com certeza não tão simples).
Dadas
as circunstâncias bastante similares, os resultados finais tão diferentes das
inter-relações entre os grupos advém de duas ideias chave: tribalismo e
polarização.
Antes,
uma tribo é um conjunto de indivíduos que se conectam a partir de algo que eles
consideram significativo, podendo ser religião, etnia, nacionalidade, idioma, laços
afetivos, e várias outras coisas, até mesmo time de futebol. Seguindo essa
ideia, tribalismo é o conjunto de padrões e atitudes que tendemos a adotar
quando estamos envolvidos numa tribo.
O
pensamento tribal afeta a forma com que fazemos julgamentos normativos sobre
determinado tópico, criando e cultivando a noção de “nós contra eles” (falando
bonito, é a nossa psicologia moral). Discursos implícitos ou explícitos muito
comuns são: nós estamos certos, eles errados; nós conhecemos a verdade, eles
não; nós podemos falar sobre dado assunto, eles não. Além disso, o tribalismo afeta
também a maneira através da qual adquirimos conhecimento e a maneira através da
qual consideramos quais tipos de conhecimentos são válidos ou não (nossa
psicologia epistemológica, em termos mais sofisticados). Assim, temos maior
predisposição em rejeitar o conhecimento originário de outras tribos, e aceitar,
sem muito questionamento, os conhecimentos que advêm da nossa tribo.
O
outro termo importante, a polarização, é uma medida do quanto ou o quão forte são
as diferenças entre grupos, sejam elas reais ou percebidas. Cabe ressaltar que
dependendo do quanto uma pessoa se identifica com o grupo ao qual pertence, as
diferenças percebidas são tão relevantes quanto as reais. Podemos dizer que
quanto maior a polarização, maiores serão as diferenças entre grupos, e menores
serão as possibilidades de acordo.
Aplicando
nossos conceitos chave aos exemplos futebolísticos, podemos então observar que
tribalismo em si não é o problema, mas passa a ser quando existe um alto grau
de polarização. A relação entre flamenguistas e ingleses é caracterizada como tribal
de polarização baixa, enquanto que entre os argentinos a relação tribal de polarização
é próxima à máxima. Essas características possibilitaram tanto um duelo
amistoso entre torcidas, quanto encontros que beiravam a barbárie.
Perceba
que a polarização pode fazer com que membros de uma mesma tribo segundo algum
critério (nacionalidade), tenham conflitos bastante intensos por serem de
tribos diferentes em outro aspecto (times de futebol). Brasileiros e ingleses que
possuem nacionalidades diferentes, falam idiomas diferentes, e têm costumes diferentes
podem conseguiram dialogar, conviver e coexistir, enquanto os argentinos que
têm muito mais em comum entre si, exceto pela preferência esportiva, se
confrontaram ao ponto de destruírem o que ambos almejavam: assistir ao jogo.
Acredito, que a diferença está muito ligada ao ambiente que se encontram e com o sentimento envolvido. No passado as tribos guerreavam entre si, sendo que quando se enfrentavam, uma tinha que oprimir a outra. Na sociedade hoje, temos as mesmas atitudes, independente da evolução tecnologica de cada um. No caso do jogo do Mundial, penso que o ambiente era mais de uma festa do que uma competição, talvez isso tenha sido a diferença. abs Alexandre Magalhães
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