“Sweet home Alabama, where the skies are so blue...”, “I’m going home, to the place where I belong”, “I’m lucky, I know. But I want to go home”, “Mama, I’m coming home”, “Leaving home ain’t easy”.
A
colcha de retalhos de trechos de canções do parágrafo anterior se refere a algo
mais que presente no cotidiano de muitos: simplesmente: a casa. Normalmente
atribuímos o status de casa a locais físicos, um local geográfico que serve de
ponto de referência para onde podemos retornar todos os dias. No entanto, já se
perguntou o por que de se ter uma casa? Afinal, o que é uma casa? O que ela
representa, além de uma estrutura de madeira e concreto?
Talvez
o conceito de casa ao que me refiro esteja mais próximo à ideia de lar, aonde
as pessoas se sentem acolhidas, protegidas e cuidadas (ou cuidando). Em outras
palavras, o objeto se torna fonte sensações essenciais para a manutenção da sanidade.
De um modo mais específico, para além de espaço físico, a ideia de casa está
intimamente relacionada ao conflito permanente entre caos e ordem.
Caos
é o que se encontra fora de casa, é o desconhecido, o imprevisível e muitas
vezes o indomável, mas ao mesmo tempo é potencial. Enquanto o caos amedronta e
paralisa certas pessoas, outras simplesmente cultivam um vício por ele. A ordem
é o que está dentro de casa, e é o extado oposto do caos.
Num
olhar apressado, a velha dicotomia entre considerar ordem como sendo algo bom e
caos como sendo algo ruim pode ser uma ideia pra lá de atrativa, mas cuidado. A
ordem pode funcionar como uma armadilha, afinal é lugar muito confortável para
se estar. O mundo fora de casa é dinâmico, portanto, trancafiar-se dentro dela
por tempos e tempos pode te incapacitar a lidar com o caos que governa as ruas.
E mais, estar dentro dela não significa que o caos não chegue até você. Além
disso, lidar com o caos pode ser uma fonte importante de crescimento e de
desenvolvimento de potenciais escondidos nas entranhas do ser.
Assim,
a questão essencial passa a ser em como determinar o equilíbrio entre ordem e
caos em nossas vidas. Quando chega o final do expediente e vamos para casa para
descansar, esperamos nos recuperar de todas as inúmeras incertezas do mundo
exterior, para que possamos nos expor ao caos novamente no dia seguinte minimizando
o risco de destruição física e mental.
No
entanto, antes de saber alocá-los, é preciso saber reconhecer ordem e caos e
então diferenciá-los. Esta capacidade é construída quando arrumamos a cama, a lavamos
a louça ou consertamos o encanamento, aprendemos não apenas a identificar as
diferenças entre caos e ordem, mas também à produzir ordem a partir do caos,
mas também quando um tranquilo passeio de domingo se torna uma briga
generalizada entre os familiares. Então percebemos que a ordem é suscetível à
irrupção pelo caos, e o caos pode ser tomado pela ordem.
Mas
e se a casa é uma bagunça? Bagunça em um sentido mais amplo do que coisas
espalhadas pelo chão. O que acontece quando um lugar que seria um santuário da
ordem, na verdade é marcado por um caos torturante? É a sensação de se ter uma
casa (objeto) mas não se sentir em casa. Nessa situação, sem um local no qual
possamos nos recuperar da superexposição do caos do dia a dia, e sem um lugar em
que possamos aprender a transformar o coas em ordem, grandes são as chances de
que nos tornemos niilistas e sem esperança.
Portanto,
manter a casa arrumada física e emocionalmente é mais que um mero exercício de benevolência,
trata-se de uma ferramenta que nos permite navegar pelo mundo sem que o peso da
existência seja grande demais para carregar.
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