Seu João trabalha como vendedor
numa livraria de sua cidade. Exceto em dias de resfriado severo, é o primeiro a
chegar à loja (antes mesmo da gerente). Ele se dedica bastante ao ofício e, ao
longo dos anos, desenvolveu bastante habilidade em organizar livros, atender o
público, rearranjar prateleiras e gerir estoque. Apesar dos grandes esforços de
seus donos, a livraria se vê em dificuldades e acaba por fechar as portas. Assim,
João e outros doze funcionários perdem o emprego e se veem em uma situação
complicada. Para amenizar a terrível notícia, João e os demais acionam o seguro
desemprego.
Por
um determinado período, João recebe uma quantia em dinheiro para que possa
passar alguns meses à procurar de outra atividade que possa lhe servir de
renda. Com tamanha experiência na livraria, ele monta seu currículo baseado no
conjunto de habilidades que ele desenvolveu, adicionando alguns outros cursos
que fez por conta própria, ele vai à luta.
A
história do seu João é bastante pertinente para algo que estamos vivendo
atualmente, a pandemia Covid-19. Nela, podemos distinguir dois problemas que
são confundidos de forma bastante corriqueira: o problema econômico e o
problema financeiro. Obviamente ambos estão conectados, no entanto, é
importante distinguir para que se possa fazer um diagnóstico mais preciso da
situação.
Ao
perder o emprego, João, em princípio, perde a possibilidade de produzir serviços
que seriam úteis a outras pessoas. As possíveis curas para esse problema são
potencialmente duas: ou João se realoca no mercado de trabalho em outra
atividade; ou ele procura um emprego igual ou similar ao que já fazia na
empresa anterior[1].
Outro
problema é que as contas não param de chegar. João precisa quitar as contas de
cartão de crédito, de luz, de água, gás, e muito mais. Em outras palavras, ele
tem compromissos financeiros que precisam ser honrados para que ele não fique
deficitário, mas com a perda do emprego, o auxílio é sua única fonte de renda. A
cura para isso é uma só: ter mais dinheiro.
Podemos
perceber então que o auxílio empregado por diversos governos mundo afora ameniza
o problema financeiro, e tenta, mas não resolve o problema econômico. Aquilo que
João poderia produzir caso estivesse em algum emprego, ou resolvesse empreender,
não é produzido, portanto, são coisas a menos no mercado. Ao não atender um
cliente, este poderá ficar sem o livro que precisa e não exercerá sua
atividade, ou não desfrutará de uma leitura de lazer, portanto, estará mais
pobre em termos de bem estar[2].
Talvez
o exemplo de um serviços seja menos intuitiva, mas pense que isso vale também
para menos peças de roupa, produtos de higiene, ou combustível para usos
diversos. Logicamente os efeitos não são sentidos em todos os setores ao mesmo
tempo, inclusive alguns podem até ganhar com isso, mas no geral, o mundo está
mais pobre não apenas por ter menos dinheiro, mas por ter menos coisas para
consumir[3].
[1] Na história, todos os seus esforços estão sendo utilizados na distribuição de currículos e esporádicas entrevistas de emprego, mas poderia muito bem ser o caso de ele tentar se aventurar num empreendimento.
[2]
A discussão envolve outras questões adjacentes como o chamado Efeito
Substituição, que podem afetar mudar os resultados, mas dado que é apenas um
exemplo, vamos desconsiderar tais complicações.
[3]
É preciso ter em mente que consumo na abordagem econômica é um termo amplo, e
pode ser utilizado em diversos contextos, até mesmo, como por exemplo, consumir
tempo livre com a família, ou tempo para um hobby.
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