quinta-feira, 30 de julho de 2020

Felizes para sempre?

          “Você não é perfeito, ela tampouco. Mas a questão é saber se vocês são perfeitos um para o outro” essa frase é uma adaptação do que foi dito por Sean Maguire, o psicólogo que ajuda Will Hunting em Um Gênio Indomável[1], ao saber da relação de Will com a jovem Skylar. Apoiando essa ideia, ao longo do filme, o psicólogo revela várias facetas do seu relacionamento com sua falecida esposa, desde o momento em que se conheceram, passando por diversos fatos aleatórios, até relatar seus últimos momentos juntos. Com as histórias, Maguire deixa claro para Will que ele e sua esposa construíram uma narrativa juntos, até o ponto em que seria impossível entender cada uma de suas vidas sem a presença um do outro.

            Ninguém é perfeito, é verdade, mas com tantas pessoas neste mundo, a verdade é que provavelmente existe por aí outra pessoa que é perfeita pra você e você para ela. Todos os atributos nas listas de desejo de ambos seriam mutuamente satisfeitos e vocês viveriam felizes para sempre. Mas a realidade é bastante cruel. É preciso aceitar que as chances de vocês se encontrarem no exato momento em que estão dispostos a se “amarrar” a alguém não é impossível, mas é altamente improvável.

          Se a realidade não é dura o suficiente, os economistas só pioram as coisas ao tentarem entender o mundo e as decisões das pessoas baseadas na insensível análise de custo-benefício, e é justamente o que será feito aqui.

            Ao decidir continuar a procura pelo par perfeito, o benefício, obviamente, é o de justamente encontrá-lo e viver a vida dos sonhos, enquanto que os custos podem ser sintetizados no chamado custo de procura, que cabe um pouco mais de detalhe. Ao decidir continuar a busca, você está, sobretudo, na mira do relógio biológico, que afeta, entre outras coisas, a possibilidade de ter filhos e o seu valor nos mercados de beleza e saúde. Você também incorre no custo de solidão, isto é, você está deixando de produzir a narrativa da sua vida ao lado de alguém. Também, outro ponto é o risco de dispensar bons potenciais candidatos em troca de outros não tão bons. Por fim, você precisa investir tempo, dedicação e finanças em conhecer outras pessoas.

          Por outro lado, ao decidir deixar a procura e se estabelecer com alguém, você terá os benefícios de aproveitar o relógio biológico, de ter mais tempo para cultivar uma narrativa, e terá alguém para “curar” sua solidão. Os custos da união são os de possivelmente encontrar o tal par perfeito e não poder se relacionar com ele, ou de futuramente encontrar alguém que você considere mais compatível com suas preferências quando comparado com o par escolhido.[2]

          Então a pergunta essencial que afeta o problema de encontrar o par perfeito é: quando parar de procurar este alguém perfeito e aceitar alguém menos que perfeito?

            O dilema é excruciante, mas nem tudo está perdido. Assim como Sean Maguire em dado momento do filme diz “eu conhecia cada idiossincrasia dela, e ela, as minhas, e é isso que a tornou minha esposa” podemos fazer uma analogia com o conceito econômico chamado capital humano específico de uma firma. Posto de forma reduzida, o conceito diz que quando um bom empregado trabalha muito tempo numa única firma e conhece cada pequeno detalhe dela, ele se torna muito mais valioso para esta firma do que para qualquer outra, e vice-versa. Portanto, ao usar esta ideia, o objetivo não é mais encontrar o par perfeito, mas sim alguém bom o suficiente para que, ao longo do tempo, vocês se tornem as melhores opções possíveis um para o outro.



[1] Good Will Hunting, no original.

[2] Seja por decidir continuar a busca ou por estabelecer-se, é óbvio que existem outros fatores mais detalhados que podem influenciar a escolha, mas para evitar que o texto se torne um tratado, eles não serão considerados.


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