Certa
vez, dialogando com uma jovem senhorita sobre o fato de eu ser declaradamente abstêmio,
que na tentativa de me convencer a violar tal princípio, recorreu à reincidente
interrogação “Como você vai saber se não gosta se não provar?”. Esse
questionamento, muito recorrente, diga-se de passagem, me fez respondê-la com
o outro questionamento “É preciso provar de um tudo?”, respondido com um nada
hesitante “Sim”. Continuando o diálogo, lhe perguntei “Você gosta de assassinar
e esquartejar pessoas?”, ela, visivelmente chocada disse “Não! Que horror!”, “Como
você vai saber se não gosta se não provar?” perguntei de forma quase que
retórica. Seu silêncio ensurdecedor foi a resposta.
Em
uma análise apressada, o “provar de um tudo” parece ser trivialmente aceitável
e tentador o suficiente para ser essencialmente irrecusável. Apesar de um
exemplo exagerado e bizarro, “assassinar e esquartejar” mostra que tal ideia claramente
possui limites geralmente não explicitados no dia a dia. Deste modo, a pergunta
chave é: como tornar seus limites explícitos? A resposta é, simplesmente, por
meio de princípios.
Posto
de forma simples, princípios são conhecimentos abstratos que representam uma
vasta gama de fatos concretos. Sem princípios estaríamos perdidos, tentando
redescobrir tudo sobre tudo o tempo todo. Você consegue se imaginar “redescobrindo”
a lei da gravidade toda vez que você deixar cair um objeto qualquer ao chão, ou
quando tropeçar e por pouco evitar uma desconfortável cicatriz facial? A
gravidade é um princípio de origem científica que nos permite compreender e lidar
com uma ampla série de acontecimentos, sejam eles cotidianos ou não. Assim
sendo, princípios possuem implicações bastante importantes na maneira como
navegamos pelo mundo.
Voltando
ao diálogo inicial, minha interlocutora respondeu negativamente à ideia macabra
sem perceber sua resposta foi balizada por princípios herdados, ou concebidos
ao longo de sua vida, e que balizam diariamente suas ações e opiniões,
permitindo que ela observe e interprete o mundo, sem precisar redescobrir a gravidade
a todo instante.
Existem
várias formas através das quais esses princípios são adquiridos e desenvolvidos:
religião, filosofia, ciência, experiências pessoais passadas, tradições
familiares. Ao longo da vida, cada indivíduo seleciona princípios que possam
lhe servir para guiar sua existência. Em contraponto, a ideia de experimentar
de um tudo, se levada à risca, significa descartar completamente os princípios
já estabelecidos, não oferecendo nada além de um caos existencial que torna a vivência
não apenas incômoda, mas também impraticável. É ingênuo supor que todos os
princípios sejam totalmente rígidos ou que nenhum deles deva ser testado, mas
claramente uns são muito mais rígidos do que outros, e alguns, inclusive quase
que atingindo status de verdades incontestáveis.
Afinal, o que isso
tudo tem a ver com economia? Quando se fala em economia, escassez é a nossa
gravidade. Esse o princípio que fundamenta todo o pensamento científico e
filosófico da disciplina. A maneira como nós enquanto pessoas lidamos com a
escassez é o tema implícito em cada análise econômica. Ignorar esse princípio, assim
como ignorar a gravidade, provou-se inúmeras vezes receita certa para o
desastre. Lembre-se onde há escassez, há economia.
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